O texto a ser comentado nesse post me deixou bastante triste, confesso. Conta a história de um homem que ao participar de uma guerra foi ferido na cabeça, e esse ferimento devastou sua vida, como ele mesmo escreveu.
O texto descreve o dano causado na vida de um homem por um projétil que perfurou seu cérebro. A autora o acompanhou por 26 anos em média, e teve acesso a seus cadernos, onde ele descreve sua vida. Ele escreveu após o acidente, sobre possíveis memórias, sensações atuais e passadas, os danos que o ferimento o causou, entre outras coisas. Quando ele estava bem, conseguia escrever apenas duas páginas, e ao fim demonstrava uma certa exaustão.
Segundo ele, escrever era sua única ligação com a vida, de tentar recuperar pelo menos uma parte do que perderá pelo ferimento.
Algo que me demostra muita força de vontade dele é ele dizer que não desistira da luta, que continuará a lutar. Tentando distantemente me imaginar numa situação similar é muito complicado, seja vendo alguém próximo assim ou eu mesma nela. Tem que se ser muito forte para ter que passar por esse processo de aprendizagem da vida.
É muito pesado para mim ler ele questionando "Porque minha memória não funciona, minha visão não retorna? Porque minha cabeça está continuamente doendo e zumbindo?", mas me mostra a superação ao ler, logo após isso ele dizer: "Não perdi a esperança. Tento melhorar minha situação". Ele tenta desenvolver a capacidade de lembrar e falar, de pensar e de compreender.
Me é muito estranho o que ele passa. Numa parte ele demonstra se lembrar da infância, da sua cidade, da sua professora e seu amiguinhos da infância, de ter ido para uma guerra contra a Alemanha dos nazistas, e até do ferimento. Lembra de estar indo num afrontamento e depois estar confuso, numa posição onde não se lembra de nada, nem consegue falar. Ele diz " minha cabeça parecia completamente oca, sem pensamento ou memória, apenas uma forte dor e um zunido", além disso ele descreve uma sensação de atordoamento.
Ele relata a sala de operação, a qual ele estava para operar sua cabeça. E diz ainda que, foi depois da cirurgia, após uma pessoa repetir seu nome várias vezes que ele se recordou que aquilo era seu nome, mas que ele ainda sentia como se sua memória parecesse mal existir.
Ele aceitar o que ele disse, que parecia uma recém-nascido, deve ter sido uma luta muito grande. Mas acho que isso o ajudou a perceber que talvez o melhor caminho fosse ir a passos pequenos. Ele disse que no segundo mês lembrou-se quem era Lenin, a compreender palavras como sol, lua, nuvem e chuva, e a lembrar seu nome e sobrenome. Lembrava-se que tinha uma mãe, duas irmãs e um irmão.
Ver ele dizer que se sentia uma pessoa anormal é muito triste, se sentir inútil. Não imagino os sentimentos dele ao dizer isso. Descrevia sua mente como uma completa desordem e confusão, e seu cérebro como fraco e limitado. Não compreender as imagens que se formavam em sua cabeça devia lhe causar uma frustração tremenda. Ele afirmou se recordar de fragmentos, pedaços de coisas desconexos.
Num momento do texto ele diz ter morrido quando aquele ferimento aconteceu. Eu entendo esse seu pensamento, mudou sua vida completamente, o fez se sentir como uma criatura que não serve para nada, alguém que não tem controle sobre si.
Até agora foi comentado o que ele escreveu, agora relatarei o que a autora escreveu, o acompanhamento que a autora do livro dava a ele. Ler as respostas que ele dava a ela no início demonstram o quanto ele estava confuso. Ele para ler precisava ler sílaba por sílaba, sus respostas possuíam lacunas porque ele não entendia como passar aquilo que ele "pensava", não achava palavras pras coisas que ele queria dizer.
Ela comentou que ele perdera a visão do lado direito e para ver precisava virar a cabeça lateralmente.
Ela o fazia perguntas e ele fazia um esforço enorme para respondê-la. Não consigo imaginar a frustração dele ao não conseguir respondê-la, e o que a autora sentia ao ver um homem sem resposta para questões tão simples. Ao perguntar dos meses do ano cronologicamente, ele conseguiu respondê-la, mas ao ser perguntado do inverso não conseguia. Ela mostrou não entender esse dilema, e realmente é algo a ser pensado, pois se ele lembrava dos meses, porque só por mudar a ordem ele não lembrava? O que acontecia em sua cabeça que ele não conseguia respondê-la algo que era quase que a mesma coisa que ele acabará de acertar? É como ela disse, ela quer entender por que o mundo dele desmoronou de tal maneira que tudo parece alterado para ele.
Continuaremos a relatar do texto no próximo post. Por agora só falarei um pouco da minha visão sobre o que foi lido.
O texto me fez ficar bastante pensativa. Primeiro pelos danos que o ferimento o causou. Me dá muita pena pensar no que esse homem passou tentando lembrar das coisas e fracassando. E essa tentativa incessante dele em reconquistar suas memórias, em não desistir, me faz parar e pensar na vida. Realmente, como a autora disse, ele é um herói, por que conseguiu tirar forças para tentar voltar a viver, e não somente existir.
Me faz questionar o que acontece no nosso cérebro. Qual a explicação para a memória "picotada" dele, porque ele se lembra de flashs, porque ele conseguiu se lembrar dos meses de uma forma, mas de outra não, sendo que quase se referem a mesma coisa? Além disso, isso desperta em mim uma vontade de tentar apoiar pessoas que busquem respostas e soluções pra pessoas assim. Quando digo pessoas assim me refiro àqueles que lutam para voltar a viver, que tiveram alguma doença que os devastou, mas mesmo assim continuam a lutar por que eles encontram motivos para viver.
Esse texto não me deu grandes descobertas nem nada, como alguns anteriores fizeram, mas me chamou muita atenção até agora, por que são história como a desse homem que me marcam e me inspiram. Creio que desistir seria a saída mais fácil para ele, mas ao ver ele se esforçando, ficando exausto, fracassando, mas não desistindo de lembrar das coisas me vem como um tapa na cara, e acho que na cara de muitos que leram sobre ele.
REFERÊNCIA:
Luria, A.R. (2008) O homem com um mundo estilhaçado. Rio de Janeiro: Vozes.