terça-feira, 16 de junho de 2015

Neuropsicologia na guerra - parte II (final).

Boa noite, daremos continuidade ao texto comentado na última postagem. O texto fala sobre o homem que teve seu mundo completamente modificado por um ferimento a bala que perfurou e danificou seu cérebro quanto ele tinha 23 anos de idade. Seu nome é Lev Zasetsky e quem o tratou foi um médico russo chamado Alexander .
Para que entendamos melhor o que aconteceu e onde Lev fora ferido, Luria nos explica como o cérebro funciona. Ele se divide basicamente em três grandes blocos. 
O primeiro bloco é o responsável por energizar o cérebro, ser uma fonte de energia para o resto do cérebro, como um ponto de partida da ativação vital. É a parte que auxilia o cérebro a se manter alerta e ativo de maneira geral. Esse bloco não fora afetado no ferimento de Lev.
O segundo bloco se subdivide, e é importante para nós por que foi a área degradada pelo ferimento da bala. Basicamente, ele é um bloco responsável pelo recebimento, processamento e retenção de informação que a pessoa extrai do mundo. Além disso, ele está ligado ao córtex visual, onde dependendo da área, se for afetada perde-se a visão ou vê-se com a clareza de antes de ser afetado, mas não sintetiza em uma imagem completa, ou seja, fica incapaz de reconhecer os significados visuais, como o exemplo do óculos onde a pessoa entende que é uma haste com lentes mas não sabe para que isso serve. 
E mais, esse 2º bloco também possui uma zona de convergência  entre a visão, o tato-motora e a auditiva-vestibular do cérebro, que é chamado de setor terciário. Se esse setor for afetado, a pessoa tem seu mundo fragmentado, não consegue combinar imediatamente suas impressões, além disso, isso está ligado a linguagem, que nada mais é do que crucial para a comunicação humana pois a me

sma funciona como meio de comunicação, de percepção, de memória e organiza nossa vida.
O terceiro bloco é o que forma e sustenta as intenções pessoais, as planeja e as leve a ser realizada. Esse bloco também não fora afetado em Lev, por isso ele tinha conhecimento do que acontecerá com ele e queria voltar a ser uma pessoa "útil" como ele mesmo disse.
Fica evidente  que o ferimento dele afetou o segundo bloco, pois como dito anteriormente, ele não vê o lado direito das coisas por que a imagem não é formada pelo cérebro, ele tem a linguagem deturpada pois não se recorda de nomes de coisas, nem de pessoas. O significado visual para ele, inicialmente não era compreendido. Além disso, a zona de convergência dele fora danificada pois ele não consegue combinar imediatamente suas impressões.
Ao fim do texto Luria  volta a relatar o que Lev falou, que ele não consegue ver as coisas inteiras, os objetos estão trêmulos, não vê o lado direito dar coisas, sua dificuldade em ler as coisas por essas limitações existirem, perda da proporção do corpo, onde em momentos seu corpo parecia maior mas em outros momentos parecia minúsculo, onde ele alega ter perdido o senso do seu corpo.
O que me engrandeceu ao ler esse texto foi no quanto Lev lutou para tentar reconstruir sua história para si mesmo. Acredito e tenho quase certeza que não foi nada fácil sua caminhada até esse momento, mas sua determinação me enche os olhos de lágrimas, por que pra mim a nossa memória é tudo o que temos. O resto que temos, se não temos nossas lembranças não vale de nada pois não será lembrado por nós. E essa busca incessante dele pela sua vida, que é sua memória me comove muito e me estimula futuramente a tentar ajudar pessoas com condições semelhantes de perda de memória.

REFERÊNCIA:
Luria, A.R. (2008) O homem com um mundo estilhaçado. Rio de Janeiro: Vozes.

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