Na postagem de hoje comentaremos sobre o mesmo texto da semana passada. Mas essa parte do texto teve uma leitura muito melhor e mais fácil, por ser mais prática. É a parte prática do estudo de Agostinha Mariana chamado "Complexidade de associações de estímulos condicionais de “occasion setting” do contexto do uso de droga, com abstinentes de cocaína: Uma interface entre o laboratório e a clínica".
A metodologia do estudo foi qualitativa, e contou com 15 participantes, todos homens, onde eles deveriam ter abstinência mínima de 3 meses. Eles tinham entre 24 e 40 anos. Esse número de participantes foi escolhido porque relatos além desse número não acrescentariam mais. A autora buscava examinar com maior profundidade ps significados e representações atribuídas aos efeitos da droga, olhando como os adictos veem o contexto do uso da cocaína.
Foram observadas a história do uso da droga, a manutenção da abstinência, os efeitos da droga, entre outros. E foi através do estudo disso que se identificou elementos comuns, regularidades dos elementos e padrões comportamentais dos adictos.
Ao analisarmos o contexto, viu-se que a experiência com as drogas começa geralmente com a maconha, onde o aumento do uso, ou como a autora chama, a escalada de adicção, se dá de forma ou quantitativa ou qualitativa, onde a primeira é dada com o aumento da dose da mesma droga, e a segunda se dá pela mudança para uma droga mais pesada.
Já sabemos que eles passam de uma droga mais "leve" para outras mais pesada, mas por que disso? A várias justificações para essa passagem, sendo ela como a explicação que diz que a maconha é apenas a porta de entrada nesse mundo, instigando eles a explorar, ou a de que as experiência positivas com o uso da maconha os encoraja a usar outros tipos de droga, e por fim a justificativa de que o contato com outras pessoas que usam drogas mais pesadas os influência.
O uso da maconha no estudo se deu entre os 13 e 15 anos, onde eles chegaram até a cocaína mais ou menos entre os 15 e 18 anos, dando ai um período de 2 a 3 anos para a escalada até a cocaína.
Ela ainda lista os motivos de iniciação na droga, podendo ser por curiosidade, influência de amigos e festas, entre outros.
Algo que me surpreendeu muito foi a auto-visão dos adictos, onde eles possuem um sentimento de baixa auto-estima, onde a adicção é geradora de sentimentos de fracasso, inabilidade em responder adequadamente aos desafios do cotidiano. Ou seja, eles têm uma imagem muito negativa de si próprios. Isso me fez refletir que a própria droga já está fadando a pessoa a adicção, pois como foi dito no texto, a pessoa se sente poderosa e dona da razão quando usa a droga, mas quando o efeito acaba ela é uma fracassada, ou seja eles usam-na para se sentirem bem, assim é a pessoa ligando a droga o sentimento de que ela quem lhe dá poder, sendo necessário que aqueles que experimentam por curiosidade tenham isso sob aviso, de que a droga por si só tem seus meios de gerar adicção na pessoa.
É importante sabermos que a auto-estima não nasce com a pessoa, e formada ao longo da vida do mesmo, assim, é necessário que estimulemos aqueles que estão a nossa volta a ligar sua auto-estima a coisas verdadeiramente boas, e mostrarmos que aquela sensação que a droga faz os adictos sentirem é falsa, é mascarada.
Outro ponto que me chamou muito a intenção foi a imagem da família para os adictos. Muitas vezes eu ligava a imagem deles com uma família desestruturada, mas via ao meu redor "filhinhos de papai" que tem "tudo" se tornando adictos. Nunca me passou pensar que a superproteção familiar poderia formar uma pessoa fadada a adicção. Como diz minha mãe e isso se confirma aqui é que "Tudo demais estraga", então largar demais os filhos ou protegê-los ao extremo também, e que isso sirva de aprendizado pra todos nós que pensamos em um dia formar uma família.
A questão da adicção é muito mais complexa do que eu imaginava. Eu a simplificava demais, culpando a própria pessoa por não conseguir sair dessa vida, mas quando eu me compadecia e conhecia a história da pessoa era tomada de dúvidas, e esse texto me mostrou novos horizontes.
Retomando um pouco do texto anterior pois foi retomado nesse texto é a questão da abstinência e recaídas. A abstinência da cocaína fisicamente não é devastadora, mas internamente, mentalmente é, tem que se tomar cuidado com isso. Além disso, uma informação extra é a de que a cocaína tem alto potencial de adicção, então tomem cuidado nas aventuras da vida. As recaídas são comuns, porque há motivadores significativos que fazem com que a pessoa volte a usar, sejam sensações, locais, amigos, etc, que o motivam a cocaína, cabendo, assim apoiar essas pessoas que estão em período de abstinência os dando motivadores significativos contra o uso da droga que sejam mais fortes do que os de usá-la, dar motivos pessoais ao adicto a não querer voltar a usá-la por conta própria.
Ao meus ver, o Brasil é muito precário quanto aos tratamentos aos adictos. Pode ser porque eu não tenha procurado o bastante, mas falando do que conheço, a precariedade é enorme. Pouco se é estudado pelos que tratam dessas pessoas, passando assim um tratamento superficial, onde a pessoa sai da clínica vulnerável a recaídas porque criou uma inverdade de superação da droga, porque o profissional que a tratou não sabe desses detalhes do uso da droga. Assim, espero que isso mude de alguma forma, e acredito que esse e os demais blogs dos meus colegas podem ajudar nessa "descoberta" de que precisamos voltar os olhos para as drogas, mas não olharmos com repudia e julgá-los, mas tentarmos de alguma forma ajudá-los verdadeiramente a sair dessa vida.
REFERÊNCIA:
Almeida, A.M.C. (2008) Complexidade de associações de estímulos condicionais de occasion setting do contexto do uso de droga com abstinentes de cocaína: uma interface entre o laboratório e a clínica. Universidade de São Paulo: tese de doutorado.
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