O texto a ser comentado hoje fala sobre um experimento feito por Milgram, um professor de psicologia, o qual foi feito para verificar a obediência das pessoas à uma autoridade, e tentar traçar um perfil de pessoas que seriam desafiadoras e de pessoas obedientes.
O experimento foi feito de uma forma em que a pessoa que estava sendo testada não tinha consciência do real propósito do mesmo. A pessoa via um anúncio de um estudo o qual eles ganhariam uma certa quantidade de dinheiro para a participação no mesmo.
A pessoa chegava numa sala, onde encontrava um moço vestido de jaleco branco, e após isso era apresentado a outra pessoa, que também faria parte do experimento. A pessoa era apresentada ao que acontecia, ou seja, o "pesquisador" dizia ao mesmo que um deles iria responder a perguntas e se errasse tomaria um choque que gradativamente iria aumentar de intensidade, e quem daria o choque seria a outra pessoa.
O pesquisador era falso, e a outra pessoa que passaria pelo experimento também. Ambos eram dirigidos a uma sala, onde a pessoa que estava lá sem saber a realidade do estudo deveria colocar o outro "parceiro" de projeto numa cadeira de choque, onde essa pessoa seria amarrada na cadeira pela própria pessoa. Após isso, a pessoa que chegou ali por meio do anúncio era dirigida a uma sala que tinha um controle de choques, onde havia as voltagens desses choques. Essa pessoa fora instruída pelo pesquisador a fazer perguntas por um microfone para o parceiro. A medida que a pessoa ia acertando, nada ele sofria, mas no momento que ela errasse ela tomaria um choque, a princípio numa menor voltagem. Se voltasse a errar, outro choque com uma voltagem um pouco maior, e assim sucessivamente.
Assim, o experimento se iniciava. O problema é que, numa certa voltagem, a pessoa que estava tomando os choques começava a gritar de desespero, de dor, de agonia. A pessoa que estava aplicando os choques, provavelmente, ficaria relutante em continuar, mas o pesquisador afirmava que o estudo era sério e não causaria danos a pessoa que estava tomando os choques, e propunha que a pessoa continuasse o experimento. Ai é que esta o X da questão, a pessoa continuaria a aplicar os choques e ouvir a agonia da pessoa, ou seja, obedeceria à autoridade, ou enfrentaria o pesquisador e se negaria a continuar isso? Assim, ele dividiria as pessoas em obedientes e desafiadores.
Segundo é relatado, a porcentagem de 65% das pessoas continuou a aplicação de choques, mesmo com os gritos de horror da pessoa. Isso surpreendeu Milgram, o qual esperava na verdade o oposto, o mesmo acreditava que a maioria das pessoas se negaria a continuar com essa sessão de horror.
As pessoas, ao fim do experimento, passaram por uma entrevista para verificar o perfil das pessoas, e ver se os desafiadores teriam um perfil e os obedientes outro. Acontece que não houve padrão nisso. Além disso, nesse entrevista, lhes era revelada a real natureza do estudo, e mostravam que, os obedientes, fizeram uma pessoa sofrer tanto apenas porque alguém mandou. Eles ao final do estudo mostraram o parceiro de experimento, perfeitamente bem, pois o mesmo estava apenas fingindo dor naqueles gritos e desespero. E após expor os resultados os disseram que fora tudo encenação e que, na verdade, eles não tinham causado dano algum a pessoa. Muito fácil falar isso, depois de tal encenação tão real, ao meu ver, o dano/trauma causado nas pessoas obedientes já estava consumado.
A verdade é que, inicialmente podemos julgar essas pessoas por terem continuado o experimento, mesmo ouvindo a dor do outro, mas se pararmos pra pensar, teríamos certeza que, naquela posição, teríamos sido desafiadores?
No texto, temos uma mulher que não aguentou apenas ficar com essa dúvida, e procurou duas pessoas que participaram do experimento, uma que fora obediente e a outra que fora desafiadora. No fim da avaliação, ela acaba por perceber que, a pessoa que fora desafiadora, na sua vida não demonstrou tal posição, onde o mesmo serviu ao serviço militar, não sabe dizer se matou ou não alguém na guerra que participou, e ainda afirmou a ela que só foi desafiador porque ficou com medo de ter um ataque cardíaco com a pressão do experimento. E o que foi até o fim do experimento, na verdade mudou sua posição de vida por "culpa" do experimento, ou seja, ele viu que obedecer às autoridades o faria ter matado uma pessoa, e mudou sua perspectiva de vida a partir daí.
Isso nos faz pensar, é verdade que tal experimento é extremamente errado por mexer com os traços psicológicos das pessoas que participaram do mesmo, mas não podemos dizer que não fora relevante. Temos que nos colocar no lugar de Milgram, onde o mesmo acreditava que quase ninguém fosse chegar ao fim da aplicação de choques. Talvez ele não tenha medido a extensão do seu estudo, nem pro lado bom, que foi o moço que aprendeu com o erro feito no estudo, nem pro ruim, onde podem ter havido pessoas que sofreram com o resultado do estudo (proporcionar o sofrimento estridente de uma pessoa apenas por que alguém mandou).
A obediência cega dos obedientes no pesquisador podem ter acontecido por N motivos, ao meu ver não há como definirmos se foi pela história de vida da pessoa, se foi pela situação. Isso para mim vem como uma explicação para a ausência de perfil entre os obedientes e desafiadores, pois a atitude da pessoa naquele momento pode ter motivações completamente diferentes, mas na visão geral, ocasionaram a mesma coisa, a parada do experimento ou a continuação e obediência do mesmo. Como exemplo temos o caso do homem que apenas parou por medo de passar mal, mas podemos ter motivações como dó da pessoa que estava gritando de dor, entre outros motivos que podem existir.
Isso nos mostra que a questão de obedecer ou não as autoridades não têm uma explicação concreta e certeira, como o exemplo dos nazistas. Talvez eles tenham obedecido Hitler porque ele era uma autoridade e os fora ensinado que não se contesta autoridades, se cumpre o que elas mandam. Talvez o tenham obedecido porque concordavam com seu pensamento, ou porque todos estavam obedecendo, ou por medo de sofrerem consequências. Não há como julgarmos o porque da escolha das pessoas. Podemos e devemos repugnar a atitude de extermínio deles, mas fingir entender e justificar o porque da atitude deles em obedecer a uma pessoa que muitos, e inclusive eu, achamos ser louca por ter matado tantos sem remorso é muito complicado.
A verdade é que a subjetividade dessa questão é muito grande e complexa pra mim. A subjetividade do ser humano me surpreende muito, e eu creio que jamais vai deixar de me surpreender, somos muito imprevisíveis para algumas coisas mas ao mesmo tempo previsíveis. É uma questão um tanto complicada.
REFERÊNCIA:
Slater, L.(2004) Mente e Cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro
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